Então, finalmente chegou o dia da viagem! Foi uma bela jornada cheia de acontecimentos (e perrengues) entre sair de casa e chegar aqui na Índia, então este post é dedicado a esta história.
SAINDO DE CASA:
O primeiro perrengue foi logo na saída: apesar de toda a preparação, ainda faltavam algumas coisas a se resolver de última hora, como comprar mais dólares, por exemplo. Isso fez com que eu chegasse em casa depois do planejado, e saísse correndo pra pegar o ônibus para o aeroporto. Meu plano sempre foi viajar com duas mochilas (uma grande e uma pequenininha para andar no dia-a-dia), mas nesta viagem de ida eu levava uma terceira mochila com comidas típicas e coisinhas brasileiras - massa pra pão de queijo, brigadeiro, paçoca, doce de leite, e uma garrafa de Sagatiba e outra de Jurupinga. Qual não foi minha surpresa quando, ao chegar no ponto do ônibus pro aeroporto, falando 10 minutos pro horário, percebi que tinha esquecido minha mochila pequena, que tinha dentro meu laptop, câmera, todos os eletrônicos e produtos de higiene pessoal. Saí que nem um desesperado na rua, peguei o primeiro táxi e fiz o motorista VOAR até em casa, cheguei de volta quando o ônibus estava quase saindo.
Já no ônibus para o aeroporto, conheci 3 gringos (um eslovaco e dois eslovenos, e cada um estava viajando sozinho - quais as chances?) que iam pegar o mesmo vôo que eu. Conversei mais com o eslovaco, um cara bem gente boa que mora em Londres e está querendo se mudar para o Brasil. Ele me deu várias dicas para minhas poucas horas em Londres, inclusive combinamos de ir juntos de Heathrow, o aeroporto de Londres, para o metrô.
Embarquei para o vôo, e para o meu desespero embarcaram comigo mais uns 30 corinthianos, que estava indo para o Japão via Londres. Que inferno desesperador é ter um monte de gente gritando "VAI CURÍNTIA" esporadicamente ao longo das 11 horas de vôo, enquanto se tenta em vão dormir no espaço minúsculo da polrona, tendo que colocar sua perna no corredor para que ela seja atropelada pelos carrinhos das aeromoças. Viajar de avião é sempre uma tortura pra mim... mas o toque corinthiano na coisa foi simplesmente CRUEL.
LONDRES:
Finalmente, cheguei em Londres ao amanhecer. Me perdi do Miha por causa das mil filas da imigração, e tive uma péssima surpresa ao pegar minhas malas na esteira: apesar do cuidado em embalar, a garrafa de Jurupinga quebrou durante o vôo, ensopou TUDO na mochila, e o vidro quebrado ainda rasgou a maior parte das embalagens das comidas, e retalhou toda a mochila por dentro. Até pra tirar as coisas de lá foi difícil, porque o video picado se misturou com a massa de brigadeiro e o doce de leite, e formou uma espécie de cerol que machucava as mãos. Dos 11 kg de comidinhas que eu estava levando, só consegui salvar o saco de sonho de valsa, um pote de doce de leite, e um pacotinho de goiabada. Todo o resto, inclusive a própria mochila, que estava retalhada ao ponto da inutilização, teve que ir pro lixo. Até ISSO foi um problema, porque se eu simplesmente abandonasse uma mochila numa lixeira no aeroporto, provavelmente a Scotland Yard iria me deter até que fosse provado que não era uma bomba ou algo do tipo. Tive que chamar as autoridades no aeroporto, e eles me orientaram sobre como jogar tudo fora.
Resolvido isto, segui a dica do Miha e peguei o London Express, um trem expresso super conveniente que leva 15 minutos entre Heathrow e a Paddington Station no metrô de Londres (a viagem normal demora uma hora de trem). A 37 libras ida-e-volta, foi caro mas valeu a pena, j;a que eu só tinha umas 5 horas úteis na cidade. Em Paddington, peguei o Underground até a Westminster Station, e emergi em um frio mas lindo dia londrino, bem na ponte entre a London Eye e o parlamento inglês, com o universalmente famoso Big Ben.
|
London Eye |
|
The Big Ben and the Houses of Parliament |
|
Westminster Abbey |
|
Lateral da Westminster Abbey |
Depois de tirar umas fotos, fui atrás do que faltava pro meu roteiro "Londres em 3 horas": um belo prato de Fish&Chips com uma Guinness:
|
Yummy! |
Depois disso só deu tempo de andar um pouco até a Trafalgar Square, e correr de novo pro metrô pra voltar para o aeroporto - mas não sem antes clicar este belo ângulo com o Big Bem ensolarado, a London Eye ao fundo, e um pedacinho da Westminster Chapel:
Uma das coisas mais interessantes é andar na rua em Londres: mesmo no metrô, é mais fácil ouvir qualquer outra língua que inglês. Acho que todo mundo naquela cidade é turista ou imigrante, e isso gera uma mistura incrível de se observar. Quero muito voltar a Londres com mais tempo para explorar, me pareceu uma cidade muito bonita e legal de fuçar.
RIAD
Ainda em Heathrow, fazendo o check-in e esperando a hora do meu vôo, ficou claro pra mim que eu estava indo para um lugar BEM diferente: um monte de mulheres de
burca e homens de turbante. Nesse momento eu fiquei feliz de ter deixado crescer minha barba antes da viagem - não havia um sequer homem sem ela no vôo. Eu queria ter tirado fotos, mas fiquei sem graça de parecer muito invasivo, e tava até com medo de olhar demais e ofender alguém.
|
Terminal de embarque - Riad |
Chegando em Riad, tive uma espera rápida de três horas pelo meu vôo de conexão até Délhi. Uma coisa chata em todos os aeroportos por onde passei é que nenhum tem uma rede grátis de Wi-Fi. Aliás, até tem, e redes pagas também (quando você está em um aeroporto por 10h, não parece tão ruim pagar pelo acesso), mas qualquer opção exige que você tenha um número de celular local, através do qual você recebe um SMS com a senha de acesso. Isso é um verdadeiro SACO pros estrangeiros que não tem um celular local e não curtem pagar as tarifas de roaming internacional. Em Riad eu dei um jeitinho brasileiro nesse problema: troquei uma ideia com um chinês que trabalhava no caixa de um café, e pedi pra colocar o celular dele no sistema, para ele receber o SMS e me passar o código. Ele foi super legal em aceitar, e eu pude finalmente ligar pra casa pelo Skype e dar notícias.
Uma coisa legal em Riad foi a placa dos banheiros no aeroporto:
DELHI:
No vôo até Délhi aconteceu uma coisa estranha. No embarque, eu estava no meu assento no corredor, e havia uma senhora indiana no assento da janela, enquanto o meio estava livre. Logo chegou um indiano bem-vestido, olhou pra ela e foi falar com a aeromoça. Me pareceu que ele estava pedindo para trocar de lugar, mas ela disse que não era possível. Então ele chegou na nossa fileira, olhou pra mulher falou, alto: "HEY. SEAT." (querendo dizer que o assento era dele). A mulher não deu um pio, se levantou e deixou ele passar. Em seguida ela fez um gesto para mim como para que eu sentasse entre os dois. Minha perna não caberia na fileira do meio, então eu disse que meu lugar era no corredor e ficaria ali. Ela simplesmente sentou no meio, os dois se enrolaram o máximo possível em seus cobertores e se mantiveram em silêncio durante todo o vôo. Em nenhum momento a mulher falou uma palavra. Eu desconfio que tenha alguma coisa de casta envolvida, tipo a mulher ser uma
Dalit, mas realmente não sei.
|
Fila para imigração em Délhi |
Finalmente cheguei no aeroporto de Delhi, que é incrivelmente bonito, limpo e organizado (diferente do resto do país nestes dois últimos aspectos). Parece que eles foram eleitos o segundo melhor aeroporto do mundo, fato que está estampado em vários cartazes. Estava morrendo de fome e sono (estava há mais de 40 horas sem dormir, ali), e a primeira coisa que fiz foi ir atrás de comida. Cheguei um bar/restaurante do saguão do aeroporto e decidi ter minha primeira experiência com a comida indiana. Pedi um Chicken Biriyani, que eu sabia ser uma espécie de arroz-amarelo com frango. Comi duas garfadas e pensei "É, é apimentado, mas dá pra comer". DOCE ilusão. Quando cheguei mais fundo no molho e no frango, encontrei a verdade. Não é que era muita apimentado: era INACREDITAVELMENTE apimentado. Eu literalmente comecei a chorar rios, minhas lágrimas rolavam soltas na face e pingavam na comida. Não consegui ir em frente e ainda tive que comprar mais duas cocas pra sobreviver.
|
Saguão do aeroporto em Délhi |
Depois do problema da fome resolvido (não por ter me alimentado, por ter sido incapacitado para esta atividade por algumas horas), fui atrás de ver o meu portão de embarque e tentar descansar. Achei um hotel no aeroporto onde eu poderia dormir e tomar banho por 2.500 rúpias, o que dá um um pouco mais de 95 reais. O lugar parecia excelente e no Brasil custaria uns 200 ou 300 reais, mas mesmo assim resolvi economizar, e fui para o salão de embarque, na esperança de achar um lugar pra dormir. O salão de embarque era lindo, decorado com palmeiras e elefantes .
Arranjei uma cadeira longa, que parecia uma espreguiçadeira, e tentei dormir ali mesmo. Amarrei minhas malas uma na outra com cadeado, e amarrei tudo na minha cadeira, e tentei tirar uma soneca. Acabei não conseguindo porque tinha muito barulho e movimento, mas pelo menos deu pra descansar um pouquinho.
Uma coisa engraçada é que tem mil funcionários pra tudo no aeroporto. Em um momento eu fui no banheiro, e tinham 5 funcionários da limpeza lá dentro, mas o negócio já estava impecavelmente limpo. Eles formaram um corredor na entrada do banheiro, e conforme eu fui entrando cada um ia me cumprimentando. Um segurou minha mala, e depois que eu terminei outro veio tirar as toalhas de papel do suporte e entregar na minha mão. Ao final, todos me acompanharam até a porta dizendo "Thank you, sir". Nunca me senti tão importante no banheiro na vida.
Na hora do embarque, depois de passar pela segurança e raio-X, vi outra coisa engraçada que tive de fotografar: um cartaz de "Funcionário do Mês", com os dizeres: "G. K. Sharma - Seu trabalho de identificação e revista levou à prisão de um cidadão dos Emirados Árabes Unidos que tentava contrabandear uma espécie rara de macaco, da Tailândia para Dubai via Índia, escondendo-o em sua cueca". País rico é país que reconhece seus heróis nacionais!
KOLKATA
Por fim, finalmente cheguei em Kolkata, depois de 54 horas em trânsito. Estava acabado. Quando cheguei no salão de desembarque, não encontrei ninguém esperando por mim. Fiquei dando sopa lá por uns 10 minutos, esperando que alguém viesse falar comigo dizendo ser da AIESEC, ou me desse um olhar significativo. Aí eu tive meu primeiro choque de Índia: TODO MUNDO te dá um olhar significativo. Todos me encaravam continuamente, e eu não sabia se era porque estavam tentando me reconhecer (no caso da possível pessoa que me pegaria lá), porque me achavam estranho, porque queriam me oferecer um táxi ou qualquer outra coisa.
O que eu achei estranho foi que tinham apenas umas poucas pessoas na saída do portão de desembarque, mas uma MULTIDÃO do lado de fora do portão do aeroporto. Dias depois fui descobrir que na verdade ninguém pode entrar no aeroporto, mas você pode subornar o guarda por 200 rúpias pra ele deixar você entrar.
No fim, depois de uma corrida de táxi desesperadora (mais sobre o trânsito na Índia em outro post) cheguei num apartamento de gringos em Kolkata, onde desmaiei de sono.
Em breve, mais sobre meus primeiros passos na Índia!