Mostrando postagens com marcador Perrengues / Troubles. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Perrengues / Troubles. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Perrengues, parte 02

Para quem não está vendo em sequência, vejam antes o primeiro post da série Perrengues. Seguem mais alguns!

SABE AQUELA VEZ EM QUE...


3) ... nos deparamos com um pervertido caiçara indiano?

Palolem Beach, Goa, Índia. Um paraíso de belas praias, vacas e boa comida. Conversas preguiçosas como novos amigos sob o luar da madrugada na praia. Assim é a vida em Goa.


A praia é para todos. Mooo.      


O alto fluxo de turistas sazonais neste ex-enclave português no subcontinente indiano obrigou os locais a improvisarem. A maior parte da acomodação disponível em Palolem Beach se dá na forma de pequenos bangalôs de madeira. Por 500 rúpias você aluga um com open-bar de mosquitos e eletricidade intermitente. A beleza natural tem um preço, afinal. Minha querida companheira de viagem Mairê e eu dividimos um desse, e a vida era bela.


Nosso cafofo

Por dentro da intimidade das estrelas


Uma bela noite, como são todas por ali, voltamos para casa por volta das 2h da manhã de mais um sarau noturno à beira-mar. Mairê foi tomar um banho, e a certo momento começou a falar: “Que estranhos esses barulhos, acho que tem um ratinho aqui pelo teto”. Rato na Índia, ok, big news. Segue a vida. Quando chegou a vez do meu banho, ouvi os mesmos barulhos, mas eram muito fortes para serem de um rato, sugerindo um animal pesado. Talvez uma vaca pastando atrás do bangalô? Saí do banho, botei uma roupa, peguei minha lanterna e fui lá fora investigar.


Dei a volta pelo lado do bangalô


Olhei embaixo do bangalô, que é suspenso - nada. Não tinha mais barulho, mas a essa hora eu já estava encafifado: se fosse uma vaca, ela não teria saído dali tão rápido sem um barulho muito maior. Fui dando a volta pela lateral, lentamente. Silêncio e escuridão, exceto pela minha lanterna. Quando cheguei na parte de trás, apontei a lanterna para a parede externa do banheiro e vi... dois pés balançando um metro e meio acima do chão. Em choque, apontei a lanterna para cima e vi que os pés estavam ligados ao um jovem adulto indiano, sem camisa, que se segurava pelos braços na viga superior do bangalô, e cujos olhos arregalados de espanto brilhavam à luz da lanterna.


A criatura estava aí, pendendo em cima do cano.

Nessa hora, entram os instintos criados a ferro em fogo em São Paulo – não sabia quem era, se tinham mais pessoas com ele, se estavam armados, o que queriam. Corri pelo caminho por onde tinha vindo para pegar a Mairê e irmos para um lugar seguro. Quando o caiçara viu que eu corri, se largou no chão com um estrondo e correu loucamente para longe dali pelo meio de uma pilha de folhas, lixo e tábuas de madeira.
O barulho da confusão acordou dois indianos no bangalô ao lado, e então me ajudaram a vasculhar a área. 

O intruso estava se escondendo há um bom tempo nas vigas do teto do nosso bangalô, sem dúvida nenhuma para espionar pelas frestas do banheiro. Certamente ganhou a noite com o banho da Mairê, perdeu metade com o meu, e espero que o susto que dei nele tenha lhe dado pelo menos uma boa lição.




4)  ... peguei um trem à la James Bond na Índia?

Satna, Índia. Ah, os trens na Índia. Páginas e páginas de pequenos perrengues poderiam ser escritas sobre cada pequena viagem neles, que, no entanto, permanecem sendo mais eficaz, barato e autêntico meio de transporte do subcontinente. As viagens são lentas e longas, com paradas em todas as estações, podendo ser tão curtas quanto 5 minutos e tão longas quanto 2 horas, sem que ninguém saiba quanto vai ser na próxima.


Um vagão Sleeper, com "cabines" abertas de 8 leitos cada.


Os trens indianos com leitos (a imensa maioria) têm usualmente 5 classes: AC1, AC2, AC3, Sleeper e 2nd Class. As classes AC têm ar-condicionado e conforto progressivamente maior da AC3 até a AC1, confortos esses que vão de ter colcha, travesseiro e lençol no leito, a ter apenas duas pessoas por “cabine” e refeições inclusas. Cada classe custa umas 3 vezes mais que a imediatamente anterior. Nunca viajei acima da classe AC3, e, como bons mochileiros, eu e Mairê sempre viajávamos de Sleeper, que é como a maior parte dos indianos viajam longas distâncias. Vagões Sleeper são normalmente sujos, infinitamente quentes e sempre lotados. Maravilha.


Uma pessoa por leito? Reveja seus paradigmas.


Então, no longo e tortuoso caminho entre Satna (a estação mais próxima de Khajuraho) e Mumbai, o trem parou. Desci, como sempre fazia, para comprar água e mantimentos. Apontei o que precisava na barraquinha do ambulante. E ele começou a fazer gestos urgentes e a falar alto em híndi, apontado pra mim. Achei que ele estava me cobrando mais do que os produtos custavam. “NO, 30 rupees! Only 30 rupees!”, respondia eu. O vendedor pegou o dinheiro e me jogou as coisas, e parecia desesperado. Feliz por conquistar o preço justo, abri um sorriso e me virei para a plataforma. E vi... MEU TREM EM MOVIMENTO, E GANHANDO VELOCIDADE.

Desespero. Comecei a correr que nem um louco na plataforma. O trem já estava rápido. Fosse na CPTM em São Paulo, jamais tentaria pegá-lo. Mas TODA A MINHA VIDA estava naquele trem. Acordei o Usain Bolt em mim e disparei. Já no fim da plataforma, alcancei o último vagão, me alinhei à ultima porta (pelo menos os trens indianos são civilizados o suficiente para mantê-las sempre abertas), e me joguei. Nunca levei a expressão “um salto de fé” tão literalmente.

Consegui embarcar e, ainda com as pernas pra fora do trem, fui ajudado pelos indianos que estavam no trem, vários rindo muito da minha situação. Só aí que percebi: os últimos vagões de cada trem são os da 2nd Class, e estes não possuem passagem para os vagões das classes superiores. Teria, portanto, que esperar a próxima estação, onde eu poderia descer, andar pela plataforma até meu vagão, e embarcar novamente. Já não tinha mais celular àquela altura da viagem, então nem avisar a Mairê eu podia. Por tudo que ela sabia, o mais provável é que eu tivesse ficado na estação mesmo.

O que não tem remédio, remediado está. Achei um cantinho e me espremi entre os mil indianos alim que me olhavam como um ser de outro mundo – acho que nunca um gringo pegou um vagão de segunda classe.


Curtam o olhar de felicidade dos passageiros.


Só visitando a 2nd Class para saber o que é. Não há leitos, só bancos e grades suspensas para bagagens, mas há bagagens nos bancos e pessoas nas grades. E pessoas no chão. E pessoas no corredor. E pessoas sobre pessoas. E crianças sobre pessoas sobre pessoas. E pessoas dormindo no chão entre as portas dos banheiros, sendo que já dá pra sentir o cheiro de longe quando abre-se uma daquelas portas, imagina dali.


O vagão mais vazio da 2nd Class que já vi.

Após uma hora e meia, o trem parou de novo, e eu voltei pro meu vagão. Encontrei uma pequena comoção lá, com a Mairê em meio a uns 5 prestativos indianos, tentando se fazer entender. A coitada já estava pensando no que fazer, depois de razoavelmente assumir que eu não tinha pegado o trem: ela não tinha como falar comigo, e minha bagagem estava acorrentada e trancada por um cadeado cujo código ela não sabia, sem contar que ela não seria nunca capaz de carregar minha bagagem e a dela, e nem sabia como e quando nos encontraríamos em Mumbai (dificilmente eu conseguiria outro trem no mesmo dia).

Tudo acaba bem quando termina bem. E foi bom, uma vingança involuntária pelo perrengue que ela me fez passar, e que também vou contar a vocês.


Don't mess with Mairê. She bites.



Mais perrengues em breve!




quinta-feira, 4 de julho de 2013

Perrengues, parte 01

Então vocês veem as fotos – os sorrisos, as festas, as paisagens de tirar o fôlego, templos, bichos, neve, praia, montanha, deserto, rios, florestas, gente local em seus trajes típicos, comidas... ufa! Parece uma perfeição sem fim. No entanto, a vida de mochileiro também tem seus percalços. Para cada foto maravilhosa e experiência incrível, pode ter certeza que há horas e mais horas de apertos em ônibus hiperlotados, noites em lugares, digamos, menos que confortáveis, dificuldades com a língua, lavagem de roupa no balde, pesquisas infinitas de preços de passagens aéreas, e tudo o mais que torna mochilar uma atividade ainda mais prazerosa por ser desafiadora. Já escrevi sobre a experiência em outro post. No entanto, além dos desconfortos habituais, vez por outra aparece um belo PERRENGUE. Saber lidar com os perrengues é essencial para sua vida de mochileiro – ou você lida bem com isso, ou essa vida não é pra você. E de tudo sai algo bom: estas experiências são sempre compartilhadas nas rodas de viajantes nos bares e praias, e sempre começam com “Sabe aquela vez em que...”.

Mochileiros e seu lado menos glamuroso: olheiras, cochilos de exaustão de cara no banco da frente, e muito mais.


Então, pra ninguém achar que tudo são rosas, SABE AQUELA VEZ EM QUE...



1)    ... eu passei 16 horas de conchinha com um senhor indiano?

Calcutá, Índia. Nosso grupo de 10 amigos, todos voluntários, decidiu passar o Natal em Gangtok e Darjeeling, duas estações de montanha no sopé dos Himalaias no extremo nordeste da Índia. Tomamos essa decisão meio em cima da hora, e descobrimos que todos os trens entre Calcutá e Siliguri (a cidade de onde saem os jipes para as outras duas) estavam lotados. Sim, o país hindu não comemora o Natal, mas a data coincide com os feriados de fim de ano deles, e todos correm para as montanhas. Ou seja, corremos, e conseguimos as últimas vagas em um ônibus.

Fiquei feliz quando soube que o meu lugar era um “sleeper”, um leito suspenso acima dos assentos. Ao entrar no ônibus, porém, começou a decepção:



Notem que eu não caibo nem esticado horizontalmente, nem sentado verticalmente. Eu ainda estava pensando “Potz, vai ser desconfortável passar 16h assim, mas dá pra segurar”, quando aconteceu. Um respeitável senhor indiano e sua família, mulher e dois filhos, entram no ônibus. A mulher e as crianças ocupam um sleeper, e o senhor sobe no meu e anuncia: “parece que vamos dividir esse aqui”. Demorou um pouco até eu sair do choque e perceber que sim, aquilo que não me cabia sozinho eram na verdade DOIS lugares no ônibus.

Em choque


Era isso ou desistir de toda a viagem. Foi isso. Aperta daqui, aperta dali, e a única posição (sério, a única), em que dava pra gente se amontoar naquele espaço era de conchinha. O indiano nem tomou conhecimento do desconforto – super normal pra eles, mas para fim uma noite do inferno. Afinal:

a)  A viagem de 16 horas durou 20;

b) Eu tentava manter distância, e ficava colado no vidro. Era inverno e estávamos subindo as montanhas, e eu ficava com o calor do indiano na barriga e o frio do vidro nas costas, sem cobertor.

c)  Tínhamos (foto abaixo) garrafas de água num suporte aos nossos pés. A estrada era tão miseravelmente acidentada, que o plástico de uma rachou com os solavancos. Quando percebi, estava com os pés e meias encharcados naquele frio de rachar;

d) Meu colega tinha CC e mau hálito, e era um jogo interessante tentar descobrir qual futum era qual;

e) Meu fone de ouvido resolveu quebrar no começo da viagem, então fiquei sem música também;

f) O ônibus, de acordo com os lindos hábitos de trânsito indianos, passava mais tempo buzinando do que não.

No fim, a gente aguenta tudo.




2)   ... eu coloquei até a alma pra fora na descida das montanhas do Nepal?

Pokhara, Nepal. Andar de ônibus no Nepal não é brincadeira de criança. Estradas péssimas com abismos gigantescos ao lado, ônibus pequenos (por causa das estradas estreitas), superlotados e com bagagens no corredor, música nepalesa (o encantamento cultural dura exatas 3 músicas) no último volume durante toda a viagem, solavancos épicos, motoristas maníacos. Um pouquinho de como é no vídeo abaixo:




Depois de 2 semanas a pão-de-ló em Pokhara, o pequeno paraíso perdido à beira do lago e ao pé da cordilheira dos Annapurnas, eu tinha esquecido da dura realidade. E, ao decidir pegar o ônibus de lá para a fronteira com a Índia, dez horas descendo a montanha num ritmo alucinante, esqueci de me preparar convenientemente.

Eu estava, à época, aproveitando a calmaria em Pokhara para me exercitar – corria todo dia no lago, nadava e levantava uns pesos, um ritmo bem forte. Cheguei no hotel cansado da correria, comi uma besteira, e fiquei displicentemente no computador até às 3h da manhã. Às 5h, catei minha mochila de 25kg, e, num surto de avareza, decidi andar os 3km até a estação de ônibus e economizar no táxi.

Ou seja, cheguei para a viagem com o corpo fadigado do dia anterior, sem ter dormido direito, com o esforço físico logo pela manhã e sem comer. Já estava tontinho nessa hora. Por causa do mal-estar, tomei só um copo de leite na estação pra não vomitar.

Como diria Chico Buarque... qual o quê. Imaginem-se neste estado, descendo uma montanha russa por dez horas. Comecei a passar super mal, e lutava com todas as forças para não vomitar. Assim que chegou na primeira parada na estrada, coloquei até o fígado pra fora. Ainda tinha mais 6h pela frente, e só consegui tomar água. Na segunda parada, foi-se a água e mais alguns órgãos. Cheguei perto da fronteira branco que nem um papel, e com a vista escurecendo.

O plano era cruzar a fronteira ainda naquele dia e pegar o trem para Varanasi, mas logo percebi que não ia rolar. Fui cambaleando com a mochila nas costas até o primeiro hotel pé-de-chinelo que achei, e nem negociei a diária. Entrei no quarto e caí na cama de tênis. Não sei se dormi ou desmaiei, sei que acordei 3h mais tarde, já escuro e faltando luz, e simplesmente não consegui me levantar, fiquei parado na cama, aterrorizado. Foi a única vez na minha viagem toda em que eu fiquei com medo de ter alguma coisa realmente séria e estar desamparado no meio do nada.

O hotel que me salvou - peguei a foto da internet porque na hora não tive condições...


Com um pouco mais de tempo, consegui ir lentamente até o restaurante e bebi quanta coca-cola consegui, para ter açúcar rápido alimentando a turbina. Comprei uns sanduíches e fui comendo a conta-gotas para não embrulhar o estômago. Na tarde do dia seguinte eu estava me sentindo bem o suficiente pra retomar a viagem, mas foi um belo susto.


Mais perrengues no próximo post!



domingo, 7 de abril de 2013

Border-crossing Adventures


After our hurried 11-day Rajasthan loop, our much-reduced group from Kolkata (now consisting only of me, Giselle and Ana) reached Delhi, India’s mighty capital city. There we said goodbyes to Ana, who took her flight back home via Dubai, and Giselle and I sailed on fr yet another adventure. I will not write about Delhi because, frankly, my 24-hour stay in the city was uneventful (except for a scam we turned on the scammer – oh yeah – and about which I may write later).

So on February 11th Giselle and I took yet another train ride, this time to Gorakhpur, a city in central-north India that is known for nothing BUT for being the train hub for those wishing to cross to Nepal overland. Due to some confusion on the train tickets, Giselle and I were separated into different classes for the trip. However, this apparent inconvenience turned out to be a defining moment of my trip, for it was during that train ride that I have met Sarah and David.

Dave and Sarah are a couple of extremely friendly and intelligent Americans from Massachussets (ok, Dave, we know you’re from Ohio – dang!) who were sharing the same cabin (a “cabin” in India being the 8-bed niches in which train space is divided) with me. We quickly warmed up to each other in conversation, and little did I know how much more time I’d spend with them before I was done with Nepal. They have been travelling a lot, having been in South America (shamefully not in Brazil) before tackling India, Nepal and Southeast Asia, and they also have great stories they upload on their BLOG. The one thing I don’t like about them is that they have this habit of choosing the worst possible pictures of me whenever citing me on their blog.

Dave and Sarah

Reaching Gorakhpur, we found Giselle again and the five of us (Giselle and I, Sarah and Dave and Giselle’s unreasonably big and unmanageable bag) got into a bus for the Indian-Nepali border in Sunauli. We went through the immigration rubber-stamping of both countries and finally entered Nepal. We had to take a 4-km bus ride to the (slightly) more substantial city of Bhairahawa. The funny fact was that said bus was already full. The Nepali drive just said: “NO PROBLEM, my FRRREND, you go on top the bus”. So, the four of us, along with a lot of luggage, enjoyed the only uncrowded and cool spot possible in a Nepali bus: outside of it. Upon reaching Bhairahawa, Sarah and Dave bought tickets to Chitwan wildlife reservation, their first stop in Nepal, while Giselle and I got ours to Kathmandu.

Goodbye to India

Our little gang on top of the bus 




We were starving, and we had half an hour before my bus, and one before Dave and Sarah’s, so we all had a hurried lunch of life-saving, redeeming Chowmein in Bhairahawa. Giselle and I reached the bus station 5 minutes before the appointed time, only to have a handful of ever-smiling Nepalis tell us that it had already left. WHAT?? And then we discovered one of the lamest national facts of my trivia treasure: Nepali time zone is FIFTEEN (yes, fifteen) minutes ahead of India’s, despite the country being minuscule and right in the middle of the Indian time zone. Indian Standard Time (IST) is GMT +5:30 (with this half-hour difference to other time zones being already odd, but understandable for the convenience of having a big country running entirely within the same time zone), but Nepali time is GMT +5:45, and these freaking 15 minutes made us lose the bus. I did some research on this and there’s no reason for that except to reaffirm Nepal’s sacred place as a single nation ENTIRELY DIFFERENT FROM INDIA. And, of course, nobody thought it would be nice to tell us while crossing the border.

We even tried hitching a ride in Dave and Sarah’s bus to Chitwan in the hopes of catching our bus along the way, but in some city up in the road we had to buy the last two backseat tickets for the overnight 10-hour uphill ride to Kathmandu.

Here I have to stop and tell you a little about what is riding a bus in Nepal is like. The terrain all over the country is incredibly rugged and steep, which means every road is curvy and narrow. Narrow roads make for small-sized buses, which also make for small luggage space, which means that everybody’s luggage is placed in the middle corridor. People who didn’t get a seat also seat there in whatever way possible. If you’re in the back of the bus, you have to hop from armchair to armchair through people and bags to find your way to the door. The roads are also all in terrible conditions, and the drivers are all crazier than in India (and I thought that was not possible). So you have maniac drivers speeding over holes and bumps on the road, and in each one the passengers fly from their seats like popcorn from a cooking pot. The drivers also pay no attention to the mile-deep abysses besides the roads, and the tire is always kissing an unsure-looking slope or rock. To set the atmosphere for that, every driver likes to pay his compliments to the passengers by introducing them to his favorite songs (all of them a young woman screaming to the limits of the human voice pitch range) in the loudest sound system I have ever seen in a bus. Now picture yourself in this ambience seating in a backseat, the bumpiest spot of them all, in a position in which you hit your head on the ceiling every major bump. Welcome to the joys of bus-travelling in Nepal.

Chinese pose while Giselle shuts down

The still empty bus

Nepalis must have nerves of steel and titanium bladders to stand trips like this with just one stop and even sleep through it. Giselle was able to doze off from time to time, but I couldn’t. I was rewarded for my wakefulness, however, with one of the most beautiful sights I have seen.
Nepal’s energy matrix is,like Brazil’s, mainly based in hydroelectric power. However, as a Himalayan nation, their water reserves depend on the mountains’ water cycle, which means there is a very dry season from mid-winter to early spring. During this time, Nepalis experience extended power cuts that can last up to 12 hours a day.

It was during one of these blackouts that we were crossings the mountains of the Kathmandu valley. The sky was fully starred, and the black mountains set against the dark night sky made it impossible to distinguish what was mountain and what wasn’t. The thousands of battery-based emergency lamps dotted the valley with star-like light spots, and these, together with the actual stars, created an eerie but very beautiful sensation of being suspended in the middle of the sky, with stars all the way above and below you. It was one of these moments that happen from time to time while we’re travelling, where unexpected beauty is found in unpredictable moments, and suddenly it makes all worthwhile. It’s really a shame that I couldn’t take a picture of that to share it with you: the moving bus made that impossible, and the faint light wouldn’t be captures by the camera anyway.

We reached Kathmandu by 4 a.m. or so, and it was a little surprising and depressing to see the city completely blacked out. I would never expect a city that big to be completely dormant, but the place looked like a ghost town while we were trying to find our hostel. The day was dawning when we got settled in one of the best hostels I’ve ever seen, Alobar1000, and went to sleep eager for the next day’s discoveries.

domingo, 9 de dezembro de 2012

A Jornada

Então, finalmente chegou o dia da viagem! Foi uma bela jornada cheia de acontecimentos (e perrengues) entre sair de casa e chegar aqui na Índia, então este post é dedicado a esta história.


SAINDO DE CASA:

O primeiro perrengue foi logo na saída: apesar de toda a preparação, ainda faltavam algumas coisas a se resolver de última hora, como comprar mais dólares, por exemplo. Isso fez com que eu chegasse em casa depois do planejado, e saísse correndo pra pegar o ônibus para o aeroporto. Meu plano sempre foi viajar com duas mochilas (uma grande e uma pequenininha para andar no dia-a-dia), mas nesta viagem de ida eu levava uma terceira mochila com comidas típicas e coisinhas brasileiras - massa pra pão de queijo, brigadeiro, paçoca, doce de leite, e uma garrafa de Sagatiba e outra de Jurupinga. Qual não foi minha surpresa quando, ao chegar no ponto do ônibus pro aeroporto, falando 10 minutos pro horário, percebi que tinha esquecido minha mochila pequena, que tinha dentro meu laptop, câmera, todos os eletrônicos e produtos de higiene pessoal. Saí que nem um desesperado na rua, peguei o primeiro táxi e fiz o motorista VOAR até em casa, cheguei de volta quando o ônibus estava quase saindo.

Já no ônibus para o aeroporto, conheci 3 gringos (um eslovaco e dois eslovenos, e cada um estava viajando sozinho - quais as chances?) que iam pegar o mesmo vôo que eu. Conversei mais com o eslovaco, um cara bem gente boa que mora em Londres e está querendo se mudar para o Brasil. Ele me deu várias dicas para minhas poucas horas em Londres, inclusive combinamos de ir juntos de Heathrow, o aeroporto de Londres, para o metrô.

Embarquei para o vôo, e para o meu desespero embarcaram comigo mais uns 30 corinthianos, que estava indo para o Japão via Londres. Que inferno desesperador é ter um monte de gente gritando "VAI CURÍNTIA" esporadicamente ao longo das 11 horas de vôo, enquanto se tenta em vão dormir no espaço minúsculo da polrona, tendo que colocar sua perna no corredor para que ela seja atropelada pelos carrinhos das aeromoças. Viajar de avião é sempre uma tortura pra mim... mas o toque corinthiano na coisa foi simplesmente CRUEL.


LONDRES:

Finalmente, cheguei em Londres ao amanhecer. Me perdi do Miha por causa das mil filas da imigração, e tive uma péssima surpresa ao pegar minhas malas na esteira: apesar do cuidado em embalar, a garrafa de Jurupinga quebrou durante o vôo, ensopou TUDO na mochila, e o vidro quebrado ainda rasgou a maior parte das embalagens das comidas, e retalhou toda a mochila por dentro. Até pra tirar as coisas de lá foi difícil, porque o video picado se misturou com a massa de brigadeiro e o doce de leite, e formou uma espécie de cerol que machucava as mãos. Dos 11 kg de comidinhas que eu estava levando, só consegui salvar o saco de sonho de valsa, um pote de doce de leite, e um pacotinho de goiabada. Todo o resto, inclusive a própria mochila, que estava retalhada ao ponto da inutilização, teve que ir pro lixo. Até ISSO foi um problema, porque se eu simplesmente abandonasse uma mochila numa lixeira no aeroporto, provavelmente a Scotland Yard iria me deter até que fosse provado que não era uma bomba ou algo do tipo. Tive que chamar as autoridades no aeroporto, e eles me orientaram sobre como jogar tudo fora.

Resolvido isto, segui a dica do Miha e peguei o London Express, um trem expresso super conveniente que leva 15 minutos entre Heathrow e a Paddington Station no metrô de Londres (a viagem normal demora uma hora de trem). A 37 libras ida-e-volta, foi caro mas valeu a pena, j;a que eu só tinha umas 5 horas úteis na cidade. Em Paddington, peguei o Underground até a Westminster Station, e emergi em um frio mas lindo dia londrino, bem na ponte entre a London Eye e o parlamento inglês, com o universalmente famoso Big Ben.

London Eye

The Big Ben and the Houses of Parliament


Westminster Abbey
Lateral da Westminster Abbey

Depois de tirar umas fotos, fui atrás do que faltava pro meu roteiro "Londres em 3 horas": um belo prato de Fish&Chips com uma Guinness:

Yummy!

Depois disso só deu tempo de andar um pouco até a Trafalgar Square, e correr de novo pro metrô pra voltar para o aeroporto - mas não sem antes clicar este belo ângulo com o Big Bem ensolarado, a London Eye ao fundo, e um pedacinho da Westminster Chapel:


Uma das coisas mais interessantes é andar na rua em Londres: mesmo no metrô, é mais fácil ouvir qualquer outra língua que inglês. Acho que todo mundo naquela cidade é turista ou imigrante, e isso gera uma mistura incrível de se observar. Quero muito voltar a Londres com mais tempo para explorar, me pareceu uma cidade muito bonita e legal de fuçar.


RIAD

Ainda em Heathrow, fazendo o check-in e esperando a hora do meu vôo, ficou claro pra mim que eu estava indo para um lugar BEM diferente: um monte de mulheres de burca e homens de turbante. Nesse momento eu fiquei feliz de ter deixado crescer minha barba antes da viagem - não havia um sequer homem sem ela no vôo. Eu queria ter tirado fotos, mas fiquei sem graça de parecer muito invasivo, e tava até com medo de olhar demais e ofender alguém.


Terminal de embarque - Riad
Chegando em Riad, tive uma espera rápida de três horas pelo meu vôo de conexão até Délhi. Uma coisa chata em todos os aeroportos por onde passei é que nenhum tem uma rede grátis de Wi-Fi. Aliás, até tem, e redes pagas também (quando você está em um aeroporto por 10h, não parece tão ruim pagar pelo acesso), mas qualquer opção exige que você tenha um número de celular local, através do qual você recebe um SMS com a senha de acesso. Isso é um verdadeiro SACO pros estrangeiros que não tem um celular local e não curtem pagar as tarifas de roaming internacional. Em Riad eu dei um jeitinho brasileiro nesse problema: troquei uma ideia com um chinês que trabalhava no caixa de um café, e pedi pra colocar o celular dele no sistema, para ele receber o SMS e me passar o código. Ele foi super legal em aceitar, e eu pude finalmente ligar pra casa pelo Skype e dar notícias.

Uma coisa legal em Riad foi a placa dos banheiros no aeroporto: 




DELHI:

No vôo até Délhi aconteceu uma coisa estranha. No embarque, eu estava no meu assento no corredor, e havia uma senhora indiana no assento da janela, enquanto o meio estava livre. Logo chegou um indiano bem-vestido, olhou pra ela e foi falar com a aeromoça. Me pareceu que ele estava pedindo para trocar de lugar, mas ela disse que não era possível. Então ele chegou na nossa fileira, olhou pra mulher falou, alto: "HEY. SEAT." (querendo dizer que o assento era dele). A mulher não deu um pio, se levantou e deixou ele passar. Em seguida ela fez um gesto para mim como para que eu sentasse entre os dois. Minha perna não caberia na fileira do meio, então eu disse que meu lugar era no corredor e ficaria ali. Ela simplesmente sentou no meio, os dois se enrolaram o máximo possível em seus cobertores e se mantiveram em silêncio durante todo o vôo. Em nenhum momento a mulher falou uma palavra. Eu desconfio que tenha alguma coisa de casta envolvida, tipo a mulher ser uma Dalit, mas realmente não sei.

Fila para imigração em Délhi
Finalmente cheguei no aeroporto de Delhi, que é incrivelmente bonito, limpo e organizado (diferente do resto do país nestes dois últimos aspectos). Parece que eles foram eleitos o segundo melhor aeroporto do mundo, fato que está estampado em vários cartazes. Estava morrendo de fome e sono (estava há mais de 40 horas sem dormir, ali), e a primeira coisa que fiz foi ir atrás de comida. Cheguei um bar/restaurante do saguão do aeroporto e decidi ter minha primeira experiência com a comida indiana. Pedi um Chicken Biriyani, que eu sabia ser uma espécie de arroz-amarelo com frango. Comi duas garfadas e pensei "É, é apimentado, mas dá pra comer". DOCE ilusão. Quando cheguei mais fundo no molho e no frango, encontrei a verdade. Não é que era muita apimentado: era INACREDITAVELMENTE apimentado. Eu literalmente comecei a chorar rios, minhas lágrimas rolavam soltas na face e pingavam na comida. Não consegui ir em frente e ainda tive que comprar mais duas cocas pra sobreviver.

Saguão do aeroporto em Délhi
Depois do problema da fome resolvido (não por ter me alimentado, por ter sido incapacitado para esta atividade por algumas horas), fui atrás de ver o meu portão de embarque e tentar descansar. Achei um hotel no aeroporto onde eu poderia dormir e tomar banho por 2.500 rúpias, o que dá um um pouco mais de 95 reais. O lugar parecia excelente e no Brasil custaria uns 200 ou 300 reais, mas mesmo assim resolvi economizar, e fui para o salão de embarque, na esperança de achar um lugar pra dormir. O salão de embarque era lindo, decorado com palmeiras e elefantes .

Arranjei uma cadeira longa, que parecia uma espreguiçadeira, e tentei dormir ali mesmo. Amarrei minhas malas uma na outra com cadeado, e amarrei tudo na minha cadeira, e tentei tirar uma soneca. Acabei não conseguindo porque tinha muito barulho e movimento, mas pelo menos deu pra descansar um pouquinho. 

Uma coisa engraçada é que tem mil funcionários pra tudo no aeroporto. Em um momento eu fui no banheiro, e tinham 5 funcionários da limpeza lá dentro, mas o negócio já estava impecavelmente limpo. Eles formaram um corredor na entrada do banheiro, e conforme eu fui entrando cada um ia me cumprimentando. Um segurou minha mala, e depois que eu terminei outro veio tirar as toalhas de papel do suporte e entregar na minha mão. Ao final, todos me acompanharam até a porta dizendo "Thank you, sir". Nunca me senti tão importante no banheiro na vida.

Na hora do embarque, depois de passar pela segurança e raio-X, vi outra coisa engraçada que tive de fotografar: um cartaz de "Funcionário do Mês", com os dizeres: "G. K. Sharma - Seu trabalho de identificação e revista levou à prisão de um cidadão dos Emirados Árabes Unidos que tentava contrabandear uma espécie rara de macaco, da Tailândia para Dubai via Índia, escondendo-o em sua cueca". País rico é país que reconhece seus heróis nacionais!




KOLKATA

Por fim, finalmente cheguei em Kolkata, depois de 54 horas em trânsito. Estava acabado. Quando cheguei no salão de desembarque, não encontrei ninguém esperando por mim. Fiquei dando sopa lá por uns 10 minutos, esperando que alguém viesse falar comigo dizendo ser da AIESEC, ou me desse um olhar significativo. Aí eu tive meu primeiro choque de Índia: TODO MUNDO te dá um olhar significativo. Todos me encaravam continuamente, e eu não sabia se era porque estavam tentando me reconhecer (no caso da possível pessoa que me pegaria lá), porque me achavam estranho, porque queriam me oferecer um táxi ou qualquer outra coisa.

O que eu achei estranho foi que tinham apenas umas poucas pessoas na saída do portão de desembarque, mas uma MULTIDÃO do lado de fora do portão do aeroporto. Dias depois fui descobrir que na verdade ninguém pode entrar no aeroporto, mas você pode subornar o guarda por 200 rúpias pra ele deixar você entrar.

No fim, depois de uma corrida de táxi desesperadora (mais sobre o trânsito na Índia em outro post) cheguei num apartamento de gringos em Kolkata, onde desmaiei de sono.

Em breve, mais sobre meus primeiros passos na Índia!