segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Sobre Santuários e Vacinas

Semana passada teve o dia das vacinas. Ao todo foram 07 (mais sobre isso em outro post), e, estranhamente, foi o dia em que mais me caiu a ficha a respeito do tamanho do passo que estou dando. Há algo de profundamente real em ser espetado algumas vezes com vírus bizarros, e ouvir o médico recomendar cautela a fim de não pegar uma certa "encefalite japonesa", ou te falar o que fazer no caso de você ser mordido por um macaco - algo que não pode ser bem sentido só de comprar a passagem pelo site da empresa aérea.

Foi a primeira vez, desde o começo dos meus planos de viagem, em que senti uma espécie de medo, ou uma inquietude, sobre as dificuldades que enfrentarei, apesar de intelectualmente ter uma boa noção do que me espera. E, ao explorar mais as raízes desse sentimento, me peguei a pensar em santuários.

Acho que desde cedo na vida somos incentivados (ou acontece por instinto?) a criar "santuários" na nossa vida, redes de zonas de conforto onde não só nos sentimos seguros, mas onde sabemos como agir, e o que se espera de nós. Neles, sabemos o que será bem recebido e como atingir isso. O primeiro santuário é geralmente nosso próprio lar, que nos coloca "na trilha" dos próximos santuários: a escola, a faculdade, o estágio, o trabalho, etc., até que o conjunto desses santuários se coloca como o caminho que a sociedade espera que você trilhe, e no qual você é considerado um membro "saudável" da manada.

Todos temos sonhos loucos e selvagens com experiências ou caminhos que não estão no "plano", e é sempre tenso colocá-los em prática. É irresponsável. É abrir mão de oportunidades. É não dar valor à carreira. É ser imaturo. E às vezes a gente acaba se convencendo disso, ou pelo menos chegando no "tá, em mais alguns anos, quando tudo estiver estabilizado, terei tempo, dinheiro e vontade pra fazer essas coisas com segurança". E a tragédia é que pra muitos esse tempo nunca chega.

Largar um desses santuários é um passo difícil em qualquer situação - é aceitar o risco, quando somos ensinados a fugir dele. Procurar a dificuldade, quando se passou a vida toda lutando pela facilidade. Abraçar o medo, e todo o desconforto que ele traz, na esperança de colocá-lo em seu lugar. É furar a bolha que criamos ao redor de nós mesmos, e que nos impede de ver o mundo lá fora em toda sua nitidez, em troca de uma sensação de segurança.

E foi esse impacto que eu senti por um momento: o medo de largar todos os meus santuários por um tempo, de correr atrás de algo que nem está assim tão claro, e embarcar em uma experiência que certamente será muitíssimas vezes frustrante, solitária, dolorosa, amendrontadora. E ao mesmo tempo, refletir sobre esse sentimento, pensar nesses santuários e na minha escolha de deixá-los, me deixou ainda mais tranqüilo a respeito disso tudo. Ficou claro pra mim que essa escolha é a primeira, em muito tempo, que nasceu 100% de mim, e está profundamente conectada com quem eu sou e com o que desejo ser. E esse sentimento faz valer a pena qualquer perspectiva de perrengue.

E me lembrei imediatamente de um poema do Pessoa, que, como sempre, já expressou há muito tempo qualquer sentimento possível, e de uma forma muito mais bela do qualquer outro jamais faria:


“Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
Que já têm a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos que
nos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos”
(Fernando Pessoa)



terça-feira, 9 de outubro de 2012

Travel Plans!


In the previous post, I talked a lot about the reasons why people travel, those deeper reasons that are connected with your beliefs and philosophy. Now, I wish to share a little more about my specific travel plans. Everybody keeps asking "ok, so you're going to Asia... why not Europe? What are you going to to there?". Well, the answers for "Why Asia?" are quite clear:

a) I wanted an experience in a place with a very different culture from home, some place where I could really challenge my worldview.

b) Asia is a part of the world which is very rich in adventure-like experiences that won't be easy to take once I'm older, have a family and obligations, making it perfect for my current purpose. Europe? Meh, I can take the kids in a tour there when I'm 40...

c) It's SO FREAKING CHEAP, comparatively. The money I'll spend for the current 8-month travel plans would give me maybe a month in Europe.

d) Last, but not least: when deciding where the hell to go, I've run into this excellent travel blog (Holiday in Cambodia) kept by my friend João Paulo Biscaro, who spent a year living and working in Cambodia, and travelling around. Seriously - read any random post and try not to fall in love.

As for my objectives, the whole adventure is divided into two very distinct moments:


Volunteer Work:
As some of you know, for 3 tears I've been part of AIESEC, a student organization that promotes professional exchanges abroad as one of its primary activities. In 2007 I was VP Exchanges at AIESEC in USP, and as such I directed the preparation, matching, expecations alignment, evaluation and reception activities of dozens of young Brazilians taking internships in all continents, as well as foreigners coming to work in São Paulo. I think the most persistent sensation of the whole period was "damn, I wish it was me". Indeed, I enrolled in AIESEC's exchange programme by the end of college in 2010, but ended uo giving up this dream to take an opportuity to work with sustainability at Unilever. However, now that I decided to leave my career-building in Brazil on stand-by, such a plan now makes sense once more.

Long story short, there are two kinds of professional internships promoted by AIESEC: the corporate one (GIP - GLobal Internship Programme) and the social-impact one (GCDP - Global Community Development Programme). In the first one, there is a wide range of opportunities from giant muiltinational companies (I've sent people to Electrolux, Alcatel-Lucent, DHL, Coca-cola and Microsoft, to name a few) in a whole bunch of countires, to positions in small and medium companies - there are opoortunities for all tastes and learning objectives. In the second one, there is every imaginable form of cultural, social and environmental activity, usually in developing countries, for those who want a different kind of working experience.

I have always thought I would go on a GIP, but at the moment a GCDP is what really makes sense to me. Since I've decided this trip is going to work as a sabbatical year out of my career, I don't want "traditional" work experiences (no ties, offices or air-conditioner, please). At the same time, having a positive impact on society out of my work was always of paramount importance to me (did I hear someone whispering "sustainability freak" around?). Finally, despite the fact that the idea of backpacking around is irresistible to me, I want the experience of staying put ina place for a few months and really live a cultural immersion, build relations and create bonds, live through cultural shock and achieve something. Volunteering for some months before wandering around Asia seemed to me like the ideal plan.

That said, I will stay in Calcutta, India (yeah, the city of Mother Teresa, all right). During that time, other AIESEC interns and I will work in Project Footprints, a national initiative in India focused on creating a positive inpact for poor children and their families, with cultural and educational activities. I'm also thinking about some fantastic stuff to implement there while in this project, but this is a subject for another post. Soon!


Vagabonding:

There are three kinds of travellers: tourists, those with flower shirts, travelling in all-inclusive excursions, who don't really mix with the locals and love to find their bathtubs and king-size beds at the hotel by the end of the day; backpackers, independent and fearless, hostel-dwelling travellers, are constantly in a hurry to execute every detail of their cramped and meticulous travel plans; and vagabonders. Vagabonding is a style of travelling that involves taking out an extended period of time (6 weeks or more, usually) to explore the world in your own terms. The term usually refers to a more relaxed kind of travelling, without too many time pressures or rigid schedules. So you liked this little countryside village in Vietnam? Let's stay another week! A group of Norwegian friends is going to climb a nearby mountain? Let's tag along! So you found out that it's possible to take a boat down the Mekong River instead of the bus? Why not? It seems to me like the closest you can get to supreme freedom.

So, after my three months in Calcutta, I'll start my vagabonding season throughout Asia. The plan is to spend antoher month around India, in a circular loop ending in New Delhi, fom where I'll take trains and buses up to Kathmandu, Nepal. From there, I'll take a flight o Bangkok, Thailand, which is the transportation hub for most of the region, and will serve as my "base" for taking up Myanmar and Cambodia, and south Thailand will be my door to the more southern countries of Malaysia, Singapore and Indonesia. From Singapore I should take a flight to Ho Chi Minh, in south Vietnam, from where I'll take the ground route north, visit Laos, and end up in Ha Noi, in the north of Vietnam. There, I'll apply for the 30-day Chinese visa, and visit a number of destinations on south and southeast China, reaching up to Hong Kong, where I'll apply for a new visa (Hong Kong works like out of China for visa purposes) that will allow me to go on my business through the rest of China, finally ending in Beijing. From there, I plan to take trains to Ulaanbaatar, capital of Mongolia. In that country I want to visit the Gobi desert and the nomadic peoples living there. From now on, the route is a little hazy - if my money is out, I'll take the most convenient flight back to London, from where I'll have my flight home booked. However, if I DO have some money left, I'll take a train north into Russia, and take the famous Trans-Siberian Railway through all of the country, ending up in Moscow and at the eastern door of Europe. The extent to which this current plan will be realized is something only Fate knows.

What I DO know is that I can hardly wait to hit the road, and few feelings in life are more exciting than this.

P.S.: have you ever been to any of the places in my route? Do you know somebody who did? I gladly accept recommendations, tips, suggestions and every bit of useful information available. I pay well, though only in beer! =)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Plano de Viagem!

No post anterior, falei bastante a respeito das motivações que levam alguém a viajar, aquelas mais profundas e ligadas às suas crenças e filosofias de vida. Neste, quero compartilhar um pouco sobre meu plano de viagem - afinal, todos perguntam "tá, mas você vai pra Ásia... por que não a Europa? Fazer o que lá?". O porquê da Ásia é na verdade bem simples:

a) eu queria uma experiência em um local com uma cultura bem diferente da minha própria, onde poderei desafiar minha visão de mundo;

b) é uma região muito rica de ser explorada numa aventura sozinho, e com experiências que não será fácil viver quando for mais velho, com família e compromissos... Europa? Meh, posso levar os pirralhos pra brincar lá depois...

c) É BARATO! A grana que vai me dar os 8 meses de viagem que estou planejando agora me daria talvez um mês de Europa!

d) Na fase de decidir pra onde ia, eu caí na besteira de ler o excelente blog de viagem do meu amigo João Paulo Biscaro, o Holiday in Cambodia. Sério, leia qualquer post aleatoriamente e tente não se apaixonar.

Quanto aos objetivos, na verdade, a aventura toda está dividida em duas partes bem distintas.

O Trabalho Voluntário:
Como alguns sabem, por três anos fiz parte da AIESEC, uma organização estudantil que tem no intercâmbio profissional uma de suas principais atividades. Em 2007, durante esse período, fui diretor de intercâmbios do escritório dessa organização na USP, e portanto participei diretamente da preparação, busca de oportunidades, alinhamento de expectativas e avaliação de dezenas de jovens que foram trabalhar em todos os continentes, e também da recepção e apoio a gringos vindo trabalhar no Brasil. Acho que a única sensação constante em todas as minhas atividades era aquele "como eu queria que fosse eu!". De fato, cheguei a me inscrever para um intercâmbio pela AIESEC ao final da faculdade, em 2010, e fui aprovado pra vagas interessantes, mas acabei abrindo mão desse sonho por ter sido aprovado no programa de trainees da Unilever. Com a decisão de deixar minha construção de carreira no Brasil em stand-by, esse plano voltou a fazer sentido.

Em suma, há dois tipos de intercâmbios profissionais pela AIESEC: o corporativo (GIP - Global Internship Programme), e o de impacto social (GCDP - Global Community Development Programme). No primeiro tipo, há desde oportunidades incríveis em grandes multinacionais (mandei gente para a Electrolux, Alcatel-Lucent, DHL, Coca-cola, Microsoft, etc.) nos mais diversos países, até vagas em micro e pequenas empresas - ou seja, tem oportunidade de aprendizado pra todos os gostos. No segundo tipo, há todos os tipos possíveis e imagináveis de trabalhos culturais, sociais e ambientais, geralmente em países subdesenvolvidos, para quem quer ter outro tipo de experiência.

Eu sempre achei que iria para um GIP, mas nesse momento um GCDP é o que realmente faz sentido pra mim. Decidi que essa viagem funcionará como uma espécie de ano sabático e que não queria experiências de trabalho "tradicionais" (nada de roupa social, escritórios ou ar-condicionado). Ao mesmo tempo, sempre foi muito importante para mim que meu trabalho tenha algum impacto positivo na sociedade (alguém aí falou "sustentabilidade"?). Por fim, apesar da ideia do mochilão ser irresistível, eu queria a experiência de ficar alguns meses parado em algum lugar, para realmente poder viver uma imersão cultural, criar relações e vínculos, fazer alguma coisa. Fazer um trabalho voluntário por alguns meses antes de sair peregrinando por aí me pareceu a opção ideal.

Vou então ficar os primeiros 3 meses em Calcutá, na Índia (sabe a cidade da Madre Teresa? Éééé....). Nesse período, eu e outros intercambistas da AIESEC trabalharemos em um projeto chamado Footprints, cujo objetivo é causar um impacto positivo para crianças e jovens carentes e suas famílias, com atividades educacionais e culturais. Estou pensando em umas coisas fantásticas para fazer lá, que serão tema de outro post... Aguardem!


O Vagabonding:
Existem 3 tipos de viajantes: os turistas, aquelas pessoas que vão em excursões, usam camisetas floridas, não se misturam muito com os locais, e curtem um belo banho de água quente e uma cama king size no hotel ao fim do dia; os mochileiros, viajantes independentes e destemidos, se hospedam em hostels, estão constantemente com pressa para cumprir cada detalhe de seus planos meticulosos de viagem e para ver e provar de tudo possível; e os vagabonders. Vagabonding é um estilo de viagem independente em que você tira um período da sua vida para "descobrir e explorar o mundo em seus próprios termos". Em geral, é um estilo de viagem mais relaxado, sem pressão de tempo nem grandes planejamentos. Gostou dessa cidadezinha no Vietnã? Fica mais uma semana! Um grupo de noruegueses do seu hostel vai escalar uma montanha? Vai junto! Descobriu que dá pra pegar uma balsa no Rio Mekong em vez do busão? Por que não?! Me parece a coisa mais próxima da suprema liberdade.

Assim sendo, depois dos meus três meses em Calcutá, começara o meu vagabonding pela Ásia. O plano agora é passar mais um mês viajando pela Índia, num loop que termina em Nova Delhi. Dali, trem e ônibus até Kathmandu, no Nepal, e em seguida vôo para Bangkok, Tailândia. Esta cidade é o hub de transportes aéreos da região, e será a "base" para os passeios de Mianmar e Camboja, e o sul da Tailândia será a porta de entrada para a Malásia, Cingapura e Indonesia. De Cingapura devo pegar um aéreo até Ho Chi Minh, no Vietnã, de onde devo subir por terra até o norte (com uma passadinha no Laos), em Ha Noi. Daí, entramos no reina da China. O visto chinês dura apenas 30 dias, e penso em entrar por terra no país, fazer todo o roteiro sul-sudeste, e chegar em Hong Kong. Os poucos dias em Hong Kong servirão para solicitar um novo visto de 30 dias (já que a cidade é autônoma e não funciona como parte da China), que me permitirá fazer o resto do roteiro. Devo terminar o trecho China em Beijing, de onde devo pegar um trem para Ulan Bator, capital da Mongólia. neste país pretendo conhecer o deserto de Gobi e os festivais dos povos nômades do deserto. A partir daí, tudo é ainda mais incerto. Faltando grana, pegarei o trajeto aéreo mais conveniente até Londres, de onde volto ao Brasil. Agora, HAVENDO grana, fecho co chave de ouro: trem para o norte, na Rússia, onde pego a célebre rodovia Transsiberiana, atravessando toda a imensa Rússia e caindo em Moscou, já nas portas da Europa. Quanto desse roteiro será efetivamente cumprido, só o impoderável saberá.

O que sei é que mal posso me conter de excitação para colocaro pé na estrada, e poucos sentimentos na vida são melhores.

P.S.: conhece algum dos lugares que estão na minha rota? Conhece alguém que já foi? Aceito indicações, dicas, sugestões e toda informação que for útil! Paga-se em cerveja! =D

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Why We Travel


So, at last, after so many fears and doubts, the day has come in which I decided to really do this: I am, in all truth, about to go on a long trip throughout India, Southeast Asia and China. The plan, as it's currently set on this October 2012, is to start it by spending 3 months in Calcutta (Kolkata), India, doing volunteer work with a focus on education for poor children and their families. After that, I'll backpack around the rest of India, Nepal, Thailand, Myanmar (formerly called Burma), Malysia, Singapore, Indonesia, the Phillipines, Vietnam, Cambodia, Laos, China and Mongolia, with some other destinations yet to be confirmed. The entire trip should last something between 6 months and a year.

Since the big decision day, a lot of things have changed: my shopping and local expenses have beens greatly reduced; I no longer think about buying a new car; I now worry about bizarre stuff such as the border blockades between Myanmar and Cambodia, and the average monthly temperature in Mongolia. Also, reactions from people when hearing the big news varies greatly. Some things changed for the best: all of a sudden, I became a cool person to my most adventurous and open-minded friends. I confess it's much more fun to be "the guy who's going alone to spend a year in Asia" than just another inhabitant of São Paulo's glass office cages. However, the most common reaction I've faced is a kind of puzzlement: why? And also a more personal and specific cousin of that question: why all that now, Jorge? Thus, I think it's fitting for me to stat this blog exploring these "whys" a little bit further.

For a start, I think it's important to separate these questions by nature. For the first one, it's almost a philosophical subjetc: some people simply cannot understand the very concept of undertaking such a trip. Why would anyone want to leave family, friends and career behind to jump into an unknown and potentially hostile place, face all kind of difficulties, burn a lot of money and come back with no guarantees of finding a new job and career opportunites? Why, on top of that, would anyone want to do it alone, with no relatives or close friends available to support you on hard times? To answer that, I will not spend much time: this is one of those few things in life, right besides science fiction books and concrete poetry, in which you either see a lot of value or none at all. Bootsnall, an excellent indie travel website, has published a great article on why we travel at all. According to them, we travel to explore new cultures and find a better understanding of the world. We travel to meet local people and do new things. We travel to acquire independence and to let loose. For me, personally, there is an even less elaborate and more primitive reason: we travel because the world is there, and because it's important to know what lies behind the next mountain.

Now, the question about "why all that now, Jorge?" brings a personal component to it: why does it make sense for me to do it, and do it now? On that, I have a few things to say:

Because it's part of me: since my younger days (more details in the MEET THE BUG tab) I have this strong, almost irresistible desire to see the world, to meet different cultures, languages and people, to have unexpected experiences and be amazed by the sheer richness of life. This, even more than simple wanderlust,  is to me a means for living life to the fullest.

Because there is no better time than right now: I have been postponing this dream for many years now, supposing that later I'd have better conditions to do it, with more money, stability, and without aving to "sacrifice" the beginnings of a career. However, I have seen a quote: "the worst bet of all is that in which you sacrifice your life in the hope of being able to buy it back later", and I can't agree more with it. In fact, when will it be a better time for this: after I'm married, have a couple kids, mortgage and all the like? Indeed, for an experience such as this one, it's now or never.

Because I'll get to know myself better: we all have our moments of doubt in life and carreer, in which we feel like turning it all upside down. These are opportunities ro rethink who you are and what you want to do with your lifetime. Unfortunately, a lot of people just ignores these signs (and I am guilty of doing just that for so many times) and settles for a life of half-hearted satisfaction, and sometimes one of just plain old frustration, in order to comply with their own (and society's) expectations of what it it to be successful and accomplished. To be away from our own "identity", obligations and social pressures works like a charm to make us really look within and pay attention to who we are. That way we can learn valuble lessons an discover new opportunities and paths - including professional ones - that we didn't even know were there. Ultimately, I also believe we should seek experiences that look good in our life, rather than in our resumé.

Because I will have great stories to tell my grandchildren: in this life, all we really take are the memories of all that which moved us deeply. We take the moments of daring, love and friendships, lessons learned, and the moments that take out breath away. This trip will be full of it all.

Regardless of where we are going to or what we're going to do there, what really moves our destinies are those deeper drivers, born out of the hidden caches of our personality. At this particular moment, I'm just very happy to be doing something that so profoundly expresses who I am. For you, my readers, I hope this can be as insightful a journey as I hope it will be for me!

In the coming posts there will be more information on destinations and travel preparations! =)

O Porquê de Viajar

Finalmente, depois de muitos medos e dúvidas, chegou o dia em que tomei a decisão: vou MESMO, de verdade, fazer uma viagem longa viagem pela Índia, Sudeste Asiático e China. O plano inicial, neste outubro de 2012, é passar 3 meses em Calcutá (Kolkata), na Índia, em um trabalho voluntário focado na educação de crianças carentes e suas famílias. De lá, iniciar uma viagem aberta pelo resto da Índia, Nepal, Tailândia, Mianmar, Malásia, Cingapura, Indonésia, Filipinas, Vietnã, Camboja, Laos, China e Mongólia, com outras localidades possíveis a definir, num roteiro que deve durar algo entre 6 meses e um ano de viagem total.

Desde então, muitas coisas mudaram: minhas compras e gastos locais diminuíram radicalmente; não penso mais em trocar o carro; me preocupo com coisas bizarras como os bloqueios de fronteira entre Mianmar e o Camboja, e a temperatura média mensal na Mongólia. A reação das pessoas à notícia também varia bastante. Algumas coisas mudaram pra melhor: de repente, para meu círculo social mais descolado, me tornei uma pessoa cool. Confesso que é bem mais legal ser "o cara que vai sozinho passar um ano na Ásia" do que mais um bichinho comum das nossas jaulas de vidro paulistanas. Porém, a reação mais comum que tenho encontrado é um certo grau de incompreensão: por quê? E também um parente mais específico e pessoal dessa pergunta: por que isso tudo agora, Jorge? Gostaria, então de começar este blog explorando um pouco mais esses porquês.

Acho que antes de tudo é separar a natureza dessas questões. Algumas pessoas simplesmente não entendem o próprio conceito de se fazer uma viagem dessas. Por que alguém quereria deixar família, amigos e carreira pra trás, se jogar num lugar desconhecido e potencialmente hostil, passar uma série de perrengues, gastar dinheiro e voltar sem garantias de trabalho ou perspectivas no retorno? Por que, além de tudo, alguém gostaria de fazer isso sozinho, sem conhecidos ou pessoas próximas para apoiar nos momentos difíceis? Para esta questão, não dedicarei muito tempo: é uma daquelas coisas na vida, ali junto com livros de ficção científica ou poesia concreta, em que ou se enxerga valor ou não se enxerga. O Bootsnall, excelente portal de viagem independente, publicou um excelente artigo sobre o que leva essas pessoas a saírem de suas casas: viaja-se para explorar novas culturas, para entender melhor o mundo, para conhecer pessoas novas e fazer coisas diferentes, para adquirir independência e para enlouquecer um pouco. Pra mim, pessoalmente, há um motivo até menos elaborado e mais primitivo: viaja-se por que o mundo está lá, porque é importante saber o que há depois da próxima curva.

Perguntar "por que isso tudo agora, Jorge?", no entanto, traz um componente pessoal à questão: por que faz sentido pra mim, neste momento, nestas condições? Sobre isso, tenho mais coisas a dizer:

Porque isso faz parte de mim: desde muito cedo (detalhes na seção MEET THE BUG) tenho este desejo quase irresistível de ver o mundo, conhecer culturas, línguas e pessoas diferentes, ter experiências inusitadas e momentos de fascinação com a riqueza da vida. Isto, até mais do que wanderlust, é um meio de viver a vida em plenitude, ao máximo possível.

Porque não há melhor momento que agora: há muito tempo venho adiando esse sonho, supondo que eu teria condições de realizá-lo mais tarde, com mais dinheiro, estabilidade e sem "sacrificar" a construção de uma carreira. No entanto, como vi em uma frase há algum tempo: "a pior aposta de todas é aquela em que você sacrifica a própria vida na esperança de ter condições de comprá-la de volta mais tarde". E de fato, quando seria melhor e mais fácil realizar isto: depois de casado, com filhos, patrimônio, obrigações e tudo o mais? Para esta experiência, de fato, é agora ou nunca.

Porque vou me conhecer melhor: todos temos momentos de dúvidas na vida e na carreira, onde a sensação é de querer virar tudo do avesso. Essas são oportunidades de pensar em quem você é de verdade e o que quer fazer com seu tempo de vida. Infelizmente, muita gente simplesmente ignora esses sinais (e eu o fiz muitas vezes) e se conforma com uma vida de meia satisfação, quando não insatisfação completa, para cumprir com as expectativas de si próprio e da sociedade a respeito do que é ser bem-sucedido. Estar longe da sua "identidade", obrigações e pressões sociais funciona como uma espécie de retiro onde é possível prestar mais atenção a quem somos, e aprender muitas lições valiosas e oportunidades que ignorávamos - inclusive profissionais. E, em última análise, acredito que precisamos buscar experiências que fiquem bonitas em nossa vida, mais do que em nosso currículo.

Porque vou ter histórias para contar para os netos: de tudo que vivemos, só levamos adiante as lembranças que nos marcaram profundamente. Levamos os momentos de ousadia, os amores e amizades, as lições aprendidas, os momentos que nos tiram o fôlego. Esta viagem estará cheia de tudo isso.

Independentemente de pra onde vamos ou o que vamos fazer lá, são sempre esses motivadores mais profundos, que nascem do baús escondidos da nossa personalidade, que movem nossos destinos. No momento, eu estou feliz com o sentimento de estar fazendo algo que expressa profundamente quem eu sou. Para vocês, meus leitores, espero que seja uma jornada tão inspiradora quanto para mim!

Nos próximos posts, informações sobre o roteiro e preparativos da viagem! =D