quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Porquê de Viajar

Finalmente, depois de muitos medos e dúvidas, chegou o dia em que tomei a decisão: vou MESMO, de verdade, fazer uma viagem longa viagem pela Índia, Sudeste Asiático e China. O plano inicial, neste outubro de 2012, é passar 3 meses em Calcutá (Kolkata), na Índia, em um trabalho voluntário focado na educação de crianças carentes e suas famílias. De lá, iniciar uma viagem aberta pelo resto da Índia, Nepal, Tailândia, Mianmar, Malásia, Cingapura, Indonésia, Filipinas, Vietnã, Camboja, Laos, China e Mongólia, com outras localidades possíveis a definir, num roteiro que deve durar algo entre 6 meses e um ano de viagem total.

Desde então, muitas coisas mudaram: minhas compras e gastos locais diminuíram radicalmente; não penso mais em trocar o carro; me preocupo com coisas bizarras como os bloqueios de fronteira entre Mianmar e o Camboja, e a temperatura média mensal na Mongólia. A reação das pessoas à notícia também varia bastante. Algumas coisas mudaram pra melhor: de repente, para meu círculo social mais descolado, me tornei uma pessoa cool. Confesso que é bem mais legal ser "o cara que vai sozinho passar um ano na Ásia" do que mais um bichinho comum das nossas jaulas de vidro paulistanas. Porém, a reação mais comum que tenho encontrado é um certo grau de incompreensão: por quê? E também um parente mais específico e pessoal dessa pergunta: por que isso tudo agora, Jorge? Gostaria, então de começar este blog explorando um pouco mais esses porquês.

Acho que antes de tudo é separar a natureza dessas questões. Algumas pessoas simplesmente não entendem o próprio conceito de se fazer uma viagem dessas. Por que alguém quereria deixar família, amigos e carreira pra trás, se jogar num lugar desconhecido e potencialmente hostil, passar uma série de perrengues, gastar dinheiro e voltar sem garantias de trabalho ou perspectivas no retorno? Por que, além de tudo, alguém gostaria de fazer isso sozinho, sem conhecidos ou pessoas próximas para apoiar nos momentos difíceis? Para esta questão, não dedicarei muito tempo: é uma daquelas coisas na vida, ali junto com livros de ficção científica ou poesia concreta, em que ou se enxerga valor ou não se enxerga. O Bootsnall, excelente portal de viagem independente, publicou um excelente artigo sobre o que leva essas pessoas a saírem de suas casas: viaja-se para explorar novas culturas, para entender melhor o mundo, para conhecer pessoas novas e fazer coisas diferentes, para adquirir independência e para enlouquecer um pouco. Pra mim, pessoalmente, há um motivo até menos elaborado e mais primitivo: viaja-se por que o mundo está lá, porque é importante saber o que há depois da próxima curva.

Perguntar "por que isso tudo agora, Jorge?", no entanto, traz um componente pessoal à questão: por que faz sentido pra mim, neste momento, nestas condições? Sobre isso, tenho mais coisas a dizer:

Porque isso faz parte de mim: desde muito cedo (detalhes na seção MEET THE BUG) tenho este desejo quase irresistível de ver o mundo, conhecer culturas, línguas e pessoas diferentes, ter experiências inusitadas e momentos de fascinação com a riqueza da vida. Isto, até mais do que wanderlust, é um meio de viver a vida em plenitude, ao máximo possível.

Porque não há melhor momento que agora: há muito tempo venho adiando esse sonho, supondo que eu teria condições de realizá-lo mais tarde, com mais dinheiro, estabilidade e sem "sacrificar" a construção de uma carreira. No entanto, como vi em uma frase há algum tempo: "a pior aposta de todas é aquela em que você sacrifica a própria vida na esperança de ter condições de comprá-la de volta mais tarde". E de fato, quando seria melhor e mais fácil realizar isto: depois de casado, com filhos, patrimônio, obrigações e tudo o mais? Para esta experiência, de fato, é agora ou nunca.

Porque vou me conhecer melhor: todos temos momentos de dúvidas na vida e na carreira, onde a sensação é de querer virar tudo do avesso. Essas são oportunidades de pensar em quem você é de verdade e o que quer fazer com seu tempo de vida. Infelizmente, muita gente simplesmente ignora esses sinais (e eu o fiz muitas vezes) e se conforma com uma vida de meia satisfação, quando não insatisfação completa, para cumprir com as expectativas de si próprio e da sociedade a respeito do que é ser bem-sucedido. Estar longe da sua "identidade", obrigações e pressões sociais funciona como uma espécie de retiro onde é possível prestar mais atenção a quem somos, e aprender muitas lições valiosas e oportunidades que ignorávamos - inclusive profissionais. E, em última análise, acredito que precisamos buscar experiências que fiquem bonitas em nossa vida, mais do que em nosso currículo.

Porque vou ter histórias para contar para os netos: de tudo que vivemos, só levamos adiante as lembranças que nos marcaram profundamente. Levamos os momentos de ousadia, os amores e amizades, as lições aprendidas, os momentos que nos tiram o fôlego. Esta viagem estará cheia de tudo isso.

Independentemente de pra onde vamos ou o que vamos fazer lá, são sempre esses motivadores mais profundos, que nascem do baús escondidos da nossa personalidade, que movem nossos destinos. No momento, eu estou feliz com o sentimento de estar fazendo algo que expressa profundamente quem eu sou. Para vocês, meus leitores, espero que seja uma jornada tão inspiradora quanto para mim!

Nos próximos posts, informações sobre o roteiro e preparativos da viagem! =D


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