Muito bem, agora que a inspiração e motivação estão em dia, vamos falar de negócios. Algumas das partes mais importantes, potencialmente chatas e cheias de detalhes de uma longa viagem como esta são os procedimentos para a compra de passagens aéreas, vacinas, seguro-saúde e vistos. Abaixo farei o meu melhor para simplificar essas coisas:
Passagens Aéreas:
Uma parte bem capciosa, porque trechos aéreos são um dos maiores gastos da viagem, especialmente se você tem que fazer trechos intercontinentais. No meu caso, foram decisões bem complicadas, porque para manter minha flexibilidade na estrada, não dava para me comprometer com uma série de checkpoints aéreos no meio do caminho, que são caros pra comprar, remarcar ou cancelar. Por outro lado, ficar comprando apenas trechos de ida na véspera da viagem pode arruinar seu orçamento.
No meu caso, tive que fazer um meio termo. Comprei um trecho ida-e-volta entre São Paulo e Londres, com ida para dezembro-2012 e volta para agosto-2013, que era a data mais provável que eu pude levantar de acordo com meu roteiro e orçamento. Assim, já garanto um preço menor para o trecho intercontinental. Além disso, comprei separadamente um trecho só de ida Londres - Nova Délhi, com escala em Riad, na Arábia Saudita, o mais barato que encontrei. Por fim, comprei um trecho doméstico, de uma companhia low cost indiana, entre Nova Délhi e Calcutá, que saiu bem mais barato. Pra economizar, cheguei até a considerar pegar um trem para este último trecho, mas me recomendaram fortemente não pegar trem na Índia antes de chegar e me aclimatar ao local...
Dessa forma, mantenho a minha flexibilidade, já que ao fim da viagem devo comprar um trecho só de ida de qualquer lugar onde eu esteja para Londres, para pegar o vôo de volta. Se houver tempo, dinheiro e condições, também posso remarcar a data do vôo de volta ao Brasil de modo a comportar outros planos. Comprei esses trechos pelo próprio Decolar.com, que foi onde encontrei as melhores tarifas. Todos os vôos curtinhos que forem necessários pelo Sudeste Asiático podem ser comprados com pouca antecedência em companhias baratas, principalmente a AirAsia, que tem preços super baixos na região.
Dica #1: Passagens ida-e-volta saem BEM mais em conta do que comprar os trechos só de ida. De um modo bizarro, uma passagem ida e volta São Paulo - Londres - Calcutá era mais barata do que uma passagem só de ida para o mesmo trecho.
Dica #2: Muitas vezes sai mais barato comprar separadamente os trechos da sua rota, especialmente se com isso você conseguir fazer com que seus pontos de partida e chegada sejam grandes centros, ou conseguir incluir trechos aéreos domésticos de companhias locais. Por exemplo: um vôo São Paulo - Londres - Calcutá era mil dólares mais caro que um vôo São Paulo - Londres - Nova Délhi, e o trecho Nova Délhi - Calcultá, doméstico, custa 100 dólares ou menos. Vale SUPER a pena quebrar a rota, nesse caso.
Dica #3: Veja se não é possível fazer o trecho que você procura por trem, ônibus, barco ou outro meio - além de ser bem mais barato, o próprio transporte pode ser uma experiência cultural e uma aventura interessante!
Vacinas e Cuidados com a Saúde:
Se você pretende ir pra Ásia, há um boa quantidade de vacinas a tomar antes da viagem. Mais que isso, além das vacinas, há uma série de cuidados com a saúde que são recomendados para que sua viagem seja mais que uma sucessão de diarréias e outras moléstias.
Se você está em São Paulo, SUPER recomendo fazer uma visita no Centro de Medicina do Viajante do Hospital Emílio Ribas. O Emílio Ribas é público e é um dos melhores centros de infectologia do Brasil. Você agenda uma consulta por telefone (geralmente demora um mês pra ter vaga, mas isso não deve ser um problema), e ao chegar lá um médico especializado vai analisar o roteiro da sua viagem e te indicar as vacinas necessárias, e outros cuidados específicos para as regiões visitadas.
No meu caso, foram receitadas vacinas para Febre Amarela, Poliomielite (isso mesmo, o Zé Gotinha, tive de tomar de novo porque cheguei lá sem a carteira de vacinação), Hepatite B, Raiva (isso mesmo, para o caso de eu ser mordido por um macaco, como falei no outro post), a Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba e Rubéola), Hepatite B e Febre Tifóide. As cinco primeiras eu tomei lá, na hora (Raiva e Hepatite B precisam de 3 doses cada, você agenda o retorno lá). Hepatite A e Febre Tifóide não estavam disponíveis na rede pública.
A vacina da Febre Amarela é especialmente importante, porque sem ela você não entra em vários países da Ásia, e ela é inclusive necessária para solicitar o visto pra Índia. Lá mesmo no Emílio Ribas eles emitem, na hora, o Certificado Internacional de Vacinação Contra a Febre Amarela, um documento que você tem que levar com você a viagem inteira.
A próxima jornada foi para encontrar as vacinas de Hepatite A e de Febre Tifóide na rede particular, esta última sendo especialmente difícil de se achar. A de Hepatite A estava disponível no CIP - Centro de Infusões Pacaembu, por 95 reais. No final, achei as duas no CEDIPI, paguei 264 reais por ambas (é, é uma bica).
Lá no Centro de Medicina do Viajante, também me recomendaram muito cuidado com água, gelo e ensopados, e evitar qualquer comida de procedência duvidosa. Tomar sempre água mineral, se possível com gás (aparentemente há uma máfia de falsificação de água mineral para gringos na Índia - eles lacram e tudo - e tomar água com gás diminui o risco de isso ter acontecido). Também me receitaram comprimidos de Azitromicina, para casos mais severos de diarréia (inevitáveis numa viagem dessas, e bem inconvenientes numa viagem de ônibus que dura a noite inteira, por exemplo). Por fim, me deu dicas sobre como evitar doenças para as quais não há vacina (como a Malária) e outras indisposições na viagem, e me passaram uma indicação de repelente power, o Exposis. Me deram até as informações de contato de dois centros de saúde na região (um em Calcutá, na Índia, e outro em Bagkok, na Tailândia) com os quais eles têm convênio, para eu ter a quem recorrer lá. O atendimento foi fantástico, e de graça!
Dica #1: Fazer uma consulta no Centro de Medicina do Viajante do Emílio Ribas, em São Paulo. Telefone: (11) 3896-1366. Sei que também há centros semelhantes no Rio, é só pesquisar no Google. Se não houver um centro desse em sua cidade, veja com seu médico como conseguir esse tipo de informação.
Dica #2: Levar SEMPRE protetor solar e repelente. Neste tópico no site Mochileiros.com, há umas boas dicas sobre repelentes, onde fiquei feliz de ver que a indicação do Exposis que me foi dada é boa.
Dica #3: MUITO cuidado com a água que beber. Se não tiver certeza que a água é segura (o que quase sempre deve ser o caso), prefira beber água mineral, de preferência com gás, ou um refirgerante ou outra bebida industrializada, prestando atenção para sinais de violação na embalagem. E cuidado com o gelo que você coloca no refri que você pediu pra ficar seguro!
Dica #4: Preste também atenção nas comidas. Provar novos sabores é certamente uma das principais experiências de viajar, mas não custa ter um pouco de cautela - evitar crustáceos e frutos do mar em lugares de higiene mais duvidosa, e tomar cuidado com vegetais crus, frutas, ensopados e comidas que levam água. Se comer em barraquinhas ou lugares sem muita infra-estrutura, dar preferência a alimentos fervidos ou fritos.
Seguro-saúde
E, falando em cuidados com a saúde, talvez o tema principal seja a escolha sobre o seguro-saúde a se contratar. Inicialmente eu pensei em contratar o World Escapade, indicado pelo meu amigo João Paulo, que teve uma crise de cálculo renal no Camboja e foi muito bem atendido por ele. Fiquei #chatiado quando soube que o World Escapade não atendia mais o Brasil como destino de remoção em caso de emergências (não, eu não quero ser mandado pro Uruguai, o lugar disponível mais próximo, no caso de ser acometido por algum problema de saúde sério).
No fim, acabei optando pelo WorldNomads. Este é o seguro-saúde de viagem indicado pelo Lonely Planet, tem cobertura em todos os países, boas condições, preço razoável (não é o mais barato, mas esse é o tipo de coisa em que não se pechincha...), e um sistema em que é possível solicitar reembolsos/serviços do seguro online.
Dica #1: Seja lá qual for o seguro-saúde que escolher, PESQUISE. É importante se certificar da credibilidade da empresa e do serviço. Tenha em mente que você só vai se utilizar dele nas piores situações: doente em um país distante, talvez sozinho, ou em outras situações desagradáveis - depois de ter sido roubado, ter vôos cancelados ou vistos negados, ou qualquer coisa assim. Se certifique de que você VAI poder contar com o serviço quando precisar, e que saberá como ter acesso a ele.
Dica #2: Coisas importantes a se considerar: qual é o limite de cobertura para emergências médicas, cirurgias e internações (de preferência 100%); serviço de remoção para o seu próprio país em caso de internação prolongada; cobertura para que um parente/amigo vá te acompanhar no país-destino em caso de internação; coberturas contra cancelamento de viagens/passagens, e contra roubos/furtos.
Dica #3: LEIA A LETRA MIÚDA. Saiba exatamente o que está coberto e o que não está, e evite dores de cabeça!
Dica #4: Veja reviews e recomendações de usuários do seu plano. Todo plano terá casos de sucesso e reclamações intensas, tente enxergar um padrão, ou buscar recomendações de fontes reconhecidas ou em quem você confie. No meu caso, uma opinião que me foi importante foi a da Shannon, do A Little Adrift.
Vistos:
Se você vai fazer uma viagem longa e passar por muitos países, é bom se acostumar com a ideia de ter visitar consulados e embaixadas ao longo do caminho, e planejar seu roteiro para permanecer alguns dias nas cidades em que você solicitará novos vistos, e se preparar para ficar sem seu passaporte por alguns dias. O primeiro impulso só sempre tirar tudo logo no Brasil, mas isso não é muito aconselhável se você não sabe, como eu, exatamente os dias em que estará no dito país, nem tem transporte e acomodação comprada com antecedência pra todo lugar.
Isto posto, os países se encaixam em três tipos de procedimentos de visto:
Países que não exigem vistos de brasileiros: Maravilha! Apenas viaje pra lá e seja feliz, sem custos ou burocracia. A Tailândia é uma dessas belezinhas.
Países que exigem visto na entrada: Nestes, você recebe um visto ao chegar no aeroporto/porto/alfândega/fronteira, normalmente mediante uma taxa. Vale verificar antes que documentos/fotos são necessárias e já ir preparado, pra evitar más surpresas. O Camboja está nesta categoria.
Países que exigem visto com antecedência: O tipo mais chato. Vá na embaixada/consulado, pague, se submeta a entrevistas se eles assim quiserem, deixe seu passaporte lá e pegue depois de uns dias. A dica é fazer esse processo em capitais ou grandes cidades, onde a coisa tende a ser mais rápida. Se prepara também para permanecer uns dias na cidade sem seu querido passaporte. A China e a Índia estão neste grupo.
Para facilitar, eu montei uma pequena tabela com as informações sobre os vistos necessários para os países que pretendo visitar, cobrindo Índia, Nepal, Tailândia, Mianmar, Malásia, Cingapura, Indonésia, Camboja, Vietnã, Laos, China e Mongólia. A maior parte das informações eu peguei da Schultz Turismo, uma agência de viagens em cujo site há uma grande quantidade de informações sobre vistos para todas as partes da mundo.
Dica #1: Coloque os períodos de aplicação pra vistos no seu roteiro e orçamento. Pode ser uma boa oportunidade de explorar mais a fundo uma grande cidade, ou dar uma descansada.
Dica #2: Leve sempre consigo uma boa quantidade de fotos coloridas, com fundo branco, de vários tamanhos, para estar sempre preparado para eventualidades. Eu tirei várias fotos 2x2, 3x4 e 5x7 (este último é o tamanho padrão para vistos e passaportes). Quando apliquei para o visto indiano, o formulário pedia uma foto 2x2. Colei a minúscula foto e, ao chegar lá, me explicaram que era uma foto 2x2 POLEGADAS. Como eu tinha uma 5x7 de reserva, eles aceitaram essa mesma, e resolveu na hora.
Dica #3: Muitos países pedem que os formulários mais esdrúxulos sejam preenchidos, ou que cópias de documentos sejam entregues. Vale a pena pesquisar o procedimento com antecedência e verificar se você tem condições de fornecer tudo o que pedem. Se houver alguma exceção no seu caso (como o visto exigir passagem áerea de volta quando você pretende sair do país por terra), pode ser bom mandar um e-mail para a embaixada/consulado para esclarecer a dúvida.
E é isso aí por enquanto! Vou atualizando este post conforme for tendo mais informações sobre esses assuntos, espero que seja útil!
Oi Jorge,
ResponderExcluirNo processo de aplicação para o visto indiano, você chegou a mandar a cópia das passagens para o consulado? por e-mail, o consulado me respondeu que era para mandar a cópia das passagens 'se disponível', então entendo que não é obrigatório, é isso mesmo?
Parabéns pelo blog! Abraço